Se você tem endometriose ou conhece alguém que tem, sabe que é uma doença inflamatória que causa muitas dores na região pélvica, alteração no ciclo menstrual e redução da fertilidade. Inclusive, já falamos nesse post sobre como a nutrição pode ajudar quem sofre com essa doença a ter melhor qualidade de vida.
De maneira geral, o tratamento preconizado pelos médicos inclui o uso de hormônios, como anticoncepcionais, já que a doença é causada por desregulação hormonal, analgésicos para controlar a dor, cirurgia quando necessário e, algumas vezes, mudanças de estilo de vida. Apesar de os 3 primeiros tratamentos parecerem mais agressivos e efetivos e serem os mais adotados, a mudança de estilo de vida é fundamental e indiscutivelmente importante para melhorar o prognóstico da endometriose. É aí que a alimentação entra podendo tanto contribuir, quanto atrapalhar a vida dessas mulheres e é sobre o que atrapalha que vamos falar hoje!
Como estava dizendo, os alimentos têm um papel muito importante na nossa vida porque eles têm o poder de inflamar ou desinflamar, nutrir ou intoxicar, curar ou piorar uma doença de acordo com sua composição. E esse efeito do alimento diz respeito não apenas ao alimento por si só - nem sou a favor de discriminar alimentos como maus ou bons - e sua composição, ou se está intoxicado ou deteriorado, contaminado por químicos ou bactérias, se tem aditivos ou contaminantes, se é orgânico ou tem pesticidas, mas também diz respeito a quem o come.. Afinal, há quem seja alérgico a leite, nozes, intolerante ao glúten e várias pessoas que possuem comorbidades direta ou indiretamente ligada aos alimentos e é bem importante que estejamos atentos a isso.
Quando falamos na endometriose e entendemos que essa é uma doença inflamatória, fica fácil imaginar que alguns alimentos têm uma grande chance de piorar esse quadro né!?
E adivinhe só qual alimento possui diversos fatores que o tornam inflamatório? Isso mesmo, a carne vermelha 🥩!
Antes que me perguntem, sim, existem milhares de outros alimentos inflamatórios ou que até podem ser prejudiciais à endometriose por outros motivos, mas vamos nos ater à carne por hoje, que já é um assunto e tanto!
Por que a carne vermelha é inflamatória e maléfica para mulheres com endometriose?
Começando pelo que muita gente já sabe, a carne vermelha é rica em gordura saturada (aquela que vemos mesmo, branca ou amarelada do lado de fora ou no meio das fibras da carne ou ainda a pele do frango, sabe? Essa que você ama!) que possui um perfil mais inflamatório. Isso enquanto outras carnes como a de peixe, por exemplo, possui também gordura, mas com um perfil anti-inflamatório. Além disso, a carne vermelha também é rica em ômega 6, muito presente na soja, que é usada na ração dos bois e, portanto, fica acumulado na carne que comemos. O ômega 6 é uma gordura insaturada, porém com um perfil inflamatório e o consumo em excesso não é nada interessante.
É importante abrir um parênteses aqui para que você não confunda os ômegas! O ômega 3, que é aquele presente em peixes marinhos gordurosos, que muitas de nós, nutris, suplementamos. Ele é incrível, fundamental à saúde e tem um papel anti-inflamatório. Apesar de o ômega 6 ser mais inflamatório, ele também é importante para o nosso organismo; o grande problema é que a proporção de consumo ideal de ômega 6 para ômega 3 para que estejam em equilíbrio é de 5:1, mas estima-se que a dieta atual tenha uma proporção de 20:1 😱. Ou seja, o consumo de ômega 6 é bem maior que o necessário, enquanto o de ômega 3 é baixo e isso cria um desequilíbrio que resulta em um organismo inflamado.
Além disso, a carne vermelha é desfavorável à microbiota intestinal por estimular o crescimento de bactérias Gram negativas que não são tão interessantes para a saúde de nosso intestino. Com isso, a barreira intestinal fica desestabilizada e ocorre o aumento da permeabilidade, resultando na absorção de lipopolissacarídios (LPS) presentes nas membranas dessas bactérias e aumentando o processo inflamatório no organismo. Como se já não tivesse inflamação suficiente, né!?
A carne é associada, ainda, à redução da proteína SHBG (globulina ligadora de hormônios sexuais) cuja função é carrear e transportar o hormônios, entre eles o estrogênio. Quando há essa diminuição, aumenta-se a concentração de estrogênio livre no sangue e piora do quadro de endometriose, que é uma doença de predominância estrogênica. Ou seja, já há naturalmente excesso desse hormônio e aumentá-lo causa ainda mais prejuízos.
Por fim, é importante destacar que quando falo de carne vermelha me refiro às carnes bovinas e suínas e que esse consumo deve ser limitado caso você tenha endometriose! A recomendação é que não passe de 2 vezes na semana. No que diz respeito às carnes processadas como os embutidos (bacon, calabresa, peito de peru, presunto, etc.) esse consumo deve ser ainda mais limitado, pois além de todos os aspectos citados aqui, ainda há o acréscimo de aditivos que também prejudicam o funcionamento saudável do organismo.
Mas, nutri, e eu que não tenho endometriose? Posso sofrer todos esses efeitos também?
Sim! Na verdade a carne vermelha é inflamatória pra todos nós! Ela é mais prejudicial para algumas pessoas que sofrem com doenças inflamatórias, como é caso da endometriose, mas o seu consumo não deve ser exagerado por ninguém.
Isso não significa que deve ser um alimento proibido ou que faz mal à saúde se consumido em equilíbrio. É importante entender a diferença do consumo excessivo, em uma alimentação pobre em frutas, verduras, legumes e fibras do consumo em uma alimentação balanceada e nutritiva. Nenhum alimento deve ser demonizado, mas deve-se ter consciência dos efeitos no organismo para que consiga decidir quanto de cada um entra pra sua rotina e com que frequência.
A endometriose é uma doença grave e que tem muitos desdobramentos na saúde da mulher. Quanto mais cuidado e atenção forem dedicados às mudanças de estilo de vida, mais qualidade de vida terá! Caso você tenha endometriose e opte por consumir carne vermelha, limite esse consumo a duas vezes na semana no máximo e prefira carnes magras para minimizar o consumo da gordura saturada! Além disso, introduza alimentos ricos em fibras e anti-inflamatórios como frutas, verduras, legumes, sementes e castanhas. Essas mudanças terão, com certeza, um impacto muito significativo em sua saúde!
Beijos, se cuida e até
Referências bibliográficas
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YAMAMOTO, Ayae et al. A prospective cohort study of meat and fish consumption and endometriosis risk. American journal of obstetrics and gynecology, v. 219, n. 2, p. 178. e1-178. e10, 2018.
PUJOL, Ana Paula; Aula bônus: endometriose - Curso Formação em nutrição da mulher . Instituto Ana Paula Pujo, 2020
Sociedade Brasileira de Clínica médica. A importância em manter boa proporção entre ômega 6 e ômega 3. Disponível em: http://www.sbcm.org.br/v2/index.php/not%C3%ADcias/1908-sp-359417419. Acesso em: 04 ago. 2021.
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